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Paris, 7 de janeiro de 2015… Liberdade, Tolerância e Política Externa

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Sou liberal. Longe de ser de esquerda. Mas a inépcia dos meus colegas liberais no que diz respeito a política externa é sofrível. É um fato que intervencionismo gera terrorismo, como disse Ron Paul. Se os franceses não tivessem se envolvido em um sem-número de guerras contra países islâmicos, a probabilidade de serem alvos de um ataque terrorista seria muito menor.

Por quê?

Bom, primeiramente porque o terrorismo, diferentemente do que dizem por aí, tem motivações políticas. Com fortes tons religiosos, é claro. O Corão é bem claro quando diz que devemos empreender uma guerra contra os infiéis. Mas até aí a Bíblia diz que devemos punir mulheres adúlteras com a morte. O problema está na interpretação extremamente literal que um sem-número de pessoas fazem desses livros. Mas que pessoas? Os terroristas que matam? Não. Os profetas modernos, aqueles mesmos que deixariam Maomé e Jesus Cristo de cabelos em pé.

Mas voltemos às motivações políticas. O que um grupo extremista ganha ao atacar inocentes em um país estrangeiro? Ódio, xenofobia e desejo de vingança. Lembremos da psique norte-americana após o 11/09. A primeira ação tomada pelo governo dos Estados Unidos foi bombardear um país, mesmo com informações incompletas sobre quem teria sido o verdadeiro arquiteto da barbárie que atingiu Nova Iorque.

O governo francês terá a mesma reação? Não. O problema na França é muito mais grave. Vamos aos fatos. A população francesa de origem muçulmana é enorme. Os muçulmanos, na França, já constituem quase 1/4 da população. Já a população de origem muçulmana nos EUA, apesar de grande, proporcionalmente, é muito menor do que na França. E no que isso impacta, no âmbito político, o país da liberdade, igualdade e fraternidade?

Charlie Hebdo era uma revista de esquerda. Não foram os tradicionais críticos da imigração muçulmana que foram atacados. Não foi o Front Nationale (FN) de Marine Le Pen ou os neofacistas que seguiam seu pai. Não foi a centro-direita moderada do ex-presidente Nicolas Sarkozy. Foi o símbolo do que a esquerda considerava como seu “Piauí Herald”, só que menos refinado e mais escrachado. Apesar das charges mal-educadas e bizarras, Charlie Hebdo sempre foi admirado pela esquerda “tolerante e civilizada” da França. E já foi duramente criticado justamente pela direita xenofóbica e nacionalista da FN.

Não foram somente 13 pessoas que morreram no ataque de ontem. Foi todo um sentimento que a França desenvolvia, por meio de seu amplo Estado de bem-estar social, de inclusão das minorias na sociedade francesa. O dia de ontem marca o começo da deterioração do tecido social francês. A situação é muito mais grave do que nos EUA pós-11/09. Até os elementos mais progressistas da esquerda francesa estão furiosos. Até mesmo o jornal mais esquerdista da França, o Liberation (http://www.liberation.fr), assume que o ataque mudou a maneira com que a França se vê e vê o mundo.

E isso é péssimo. O que os inimigos do ocidente e da liberdade querem é justamente o que está prestes a acontecer. Ódio e perseguição em massa às comunidades muçulmanas, guerras, campanhas na mídia e provavelmente um maior controle sobre a imigração, em especial na União Europeia. O terrorismo tem motivações políticas porque é justamente isso que o mundo não-civilizado quer. É destruir nossa cultura e nossos valores, subvertendo nossas ações e prevendo nossas reações.

A tolerância é uma das principais doutrinas liberais e ela NÃO DEVE SER ABANDONADA. Os Estados Unidos rasgaram sua constituição ao aprovar o Patriot Act, que despia até mesmo cidadãos americanos de seus direitos em nome de mais segurança. A reação na França, provavelmente, será avassaladora. A FN de Marine Le Pen ganhará muita força, possivelmente vencendo as próximas eleições presidenciais. Calcados em um discurso antiliberal e xenofóbico, pretendem restaurar a glória da França dos dias do General Charles de Gaulle.

Infelizmente, é assim que a liberdade morre. Pouco a pouco, com a ânsia que temos em a proteger. A França ainda pensa que deve civilizar as pessoas, assim como liberais pensam que temos o dever de converter todos para a nossa doutrina de paz, liberdade e propriedade. Não temos. Nós temos a responsabilidade de lutar e propagar as ideias da liberdade. Mas não podemos obrigar o outro a aceitar os mesmos valores do que nós. Devemos convencê-los com base na lógica e nos argumentos racionais, e é por isso que a educação, ferramenta que permite o acesso à lógica e a construção de argumentos racionais, é tão importante.

O único jeito de garantir a liberdade é no campo das ideias. Não podemos confundir isso com passividade em frente ao que é ruim, mas o ativismo político dos Estados para construir seus projetos de poder pouco tem a ver com a liberdade. O não-intervencionismo é a doutrina que justifica o uso de força em caso de ataques brutais. Intervencionista e socialista, a França morre aos poucos. Não por excesso de tolerância, mas sim tomada pelo sentimento de ódio ao que é bárbaro.

E era exatamente isso que eles, os homens encapuzados e impiedosos, queriam.

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Humberto Cimino

Humberto Cimino

Humberto Cimino é graduando em Relações Internacionais pela PUC-SP. Já atuou na indústria de consultorias de risco e investigação e no mercado financeiro. Atualmente trabalha na área de defesa e segurança. Um entusiasta de mercados livres, sociedades livres e instituições sólidas. Também é atirador em competições e vice-presidente do Clube de Tiro Ciminos, em São Paulo.

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