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O PT e sua incapacidade da autocrítica

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Após o afastamento da presidente Dilma Rousseff, um verdadeiro fracasso para o projeto de esquerda, o PT busca se reorganizar. Afinal, o Governo Dilma acabou, mas o Partido dos Trabalhadores não. Assim, foi aprovado há um tempo um documento intitulado “Resolução sobre conjuntura[1]”, valendo a pena analisar seu conteúdo porque ele tem influenciado a atuação da militância, haja vista se tratar dos planos expressos declarados pelo partido.

A premissa do documento é que houve um rompimento da ordem democrática, por meio de “um golpe parlamentar”, e que rasgou-se a constituição. Fala-se ainda que a mídia é monopolizada (ignorando que nunca as redes sociais e os think tanks assumiram tamanha relevância no debate político) e critíca-se várias vezes o “Grande Capital”, seja lá o que isso signifique. Enfim: para o documento há em curso no país uma conspiração golpista.

A opção pelo golpe parlamentar, na opinião do documento, é que não há como vencer eleições com pautas como “arrocho de salários e aposentadorias, eliminação de direitos trabalhistas, corte de gastos com programas sociais, anulação das vinculações constitucionais em saúde e educação, privatização de empresas estatais e abdicação da soberania sobre o pré-sal e submissão do país aos interesses das grandes corporações financeiras internacionais”.

Inclusive, segundo a resolução, “a Operação Lava Jato desempenha papel crucial na escalada golpista” por ter sido um “instrumento político para a guerra de desgaste contra dirigentes e governantes petistas, atuando de forma cada vez mais seletiva quanto a seus alvos”.

Salta os olhos que o partido ainda defenda governos como a Venezuela ao aduzir que “a queda do governo petista também é fundamental para fragilizar alianças contra hegemônicas regionais, como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), o Mercosul além de facilitar políticas de cerco e desestabilização em processos progressistas de outros países – como Venezuela, Equador e Bolívia.” Sim, é sério, o PT ainda defende o governo de Maduro.

Busca-se, aliás, certa disassociação ao impopular Governo Dilma, ao expor críticas à “presidenta”. Veja: “Em que pese o alerta emitido pelo 5º Congresso do PT, realizado em junho de 2015, – e o debate interno que se seguiu – de que era indispensável mudar a política econômica para recuperar apoio político e social, o governo prosseguiu no rumo que havia escolhido, levando ao agravamento das dificuldades”.

Após esse diagnóstico, podemos resumir da seguinte forma as ordens dadas para a militância petista:

  • negar legitimidade ao governo de Temer;
  • fazer a defesa política do legado de Lula e Dilma;
  • defender Lula dos ataques midiáticos e judiciais;
  • manter a mobilização popular em alto nível;
  • ampliar a mobilização entre setores da sociedade críticos ao PT;
  • lutar pela absolvição da presidente Dilma do processo de impeachment;

Há um espaço mínimo para autocrítica: “relegamos tarefas fundamentais como a reforma política, a reforma tributária progressiva e a democratização dos meios de comunicação.” Argumenta-se que o erro foi ter sido contaminado pelo financiamento empresarial de campanha[2] e por isso aderiu a práticas de “partidos políticos tradicionais”. Mas e as soluções propostas pelo partido? mais intervencionismo. O PT acredita que falhou ao intervir menos do que a agenda do partido determinava, que foi uma esquerda light ao longo da década e meia que governou o país. Não há qualquer menção no documento sobre o excesso de gastos ou o descontrole da inflação, por exemplo.

Fica claro o orgulho petista e sua incapacidade de aprender com os próprios erros, impedindo qualquer capacidade de autocrítica. Se por um lado isso pode dificultar a reestruturação do partido a partir das eleições municipais deste ano, por outro, contribuirá também para a não formação de uma esquerda mais civilizada e racional no Brasil, uma que respeite as contas públicas e as regras do jogo.

[1] http://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2016/05/Resolu—-es-sobre-conjuntura-Maio-2016.pdf

[2] Já mostramos neste instituto que o fim do financiamento empresarial não resoverá os problemas da corrupção: http://www.institutoliberal.org.br/blog/proibir-o-financiamento-empresarial-e-a-solucao/

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Luan Sperandio

Luan Sperandio

Analista político, colunista de Folha Business. Foi eleito Top Global Leader do Students for Liberty em 2017 e é associado do Instituto Líderes do Amanhã. É ainda Diretor de Operações da Rede Liberdade, Conselheiro da Ranking dos Políticos e Conselheiro Consultivo do Instituto Liberal.

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