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O pesadelo grego pode estar só começando

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Todos nós podemos errar, mas permanecer no erro é um sinal de loucura (Zenão de Citio)

A Grécia é hoje um retrato cruel daquilo que se convencionou chamar de estado de bem estar.  Para começar, é no mínimo paradoxal que a pátria de Aristóteles – grande filósofo estagirita, famoso, entre outras lições, pela apologia da prudência (Ética a Nicomaco) – e de Zenão de Citio – o pai do estoicismo – tenha-se transformado no país da prodigalidade, onde austeridade é uma palavra proibida, quase um sacrilégio.

Nesse sentido, a atual “tragédia grega” é exemplar.  Mostra o que acontece quando um país inteiro resolve viver acima de suas possibilidades, sem se importar com a conta, achando que terceiros estariam obrigados a quitá-la.  Os ajustes fiscais propostos foram quase sempre repelidos pela população, que se recusa sistematicamente a abrir mão do seu conto de fadas socialista.  Acreditam piamente que o Estado é uma fonte inesgotável de recursos, bastando aquilo que os demagogos convencionaram chamar de “vontade política” para que seja feita a “justiça social”. Chega a ser patético assistir a essas manifestações, não raro impregnadas de rancor e ódio contra os credores que pretendem – Oh! Suma ganância! – recuperar seu dinheiro.

A despeito das complexas teorias econômicas, históricas e sociológicas paridas em profusão por analistas e opinadores de esquerda, o problema grego pode ser resumido numa só frase: o welfare state bancado com o dinheiro dos outros atingiu o seu limite. Sucessivos governos, tanto à direita quanto à esquerda, financiaram “direitos” generosos com altos impostos e enormes de dívidas. Sua economia, porém, não conseguiu crescer rápido o suficiente para manter a farra – como, aliás, previa a boa teoria econômica. O acerto de contas uma hora chegaria.

O plebiscito deste domingo decidirá se a Grécia deve aceitar as exigências de austeridade impostas pelos credores para o reescalonamento e renegociação de sua dívida (SIM), ou se deve simplesmente formalizar o calote (NÃO), o que obrigaria o país a deixar a zona do Euro e, talvez, a própria União Européia.

Não por acaso, o primeiro ministro Alexis Tsipras, líder de uma coalizão de partidos de extrema esquerda, joga todas as suas fichas na vitória do NÃO. E a explicação para isso é muito simples: a união monetária que oficializou o Euro como moeda única tornou-se um grande entrave para os governos perdulários.  Se antes as crises financeiras eram “enfrentadas” com medidas monetárias e fiscais irresponsáveis, como emissão de moeda (leia-se: inflação) e manipulação da taxa de câmbio, hoje isso não é mais possível, pois as decisões de política monetária são tomadas de forma técnica, com pouca influência política, em Frankfurt, na austera Alemanha, pelo BCE – Banco Central Europeu (reparem na foto acima, num cartaz dos defensores do NÃO, que o grande vilão da hora é justamente o ministro das finanças alemão).

Sem a manipulação da moeda, medidas populistas tornam-se mais difíceis, principalmente depois que o crédito do governo se esgota, como é o caso da Grécia.  A partir desse ponto, a única fonte de financiamento para o aumento dos gastos públicos passa a ser a cobrança de mais impostos, mas essa, definitivamente, não é uma política de que os demagogos esquerdistas gostem muito.

Se os gregos decidirem pelo NÃO, como pretendem Tsipras et caterva, as coisas podem até melhorar um pouco no curtíssimo prazo, como ocorreu com a Argentina, em 2001.  Mas, a médio e longo prazos, a tendência é de que a situação se complique muito, pois provavelmente haverá uma mistura perversa de inflação e estagnação.  Sem falar que, diferentemente da Argentina, a economia grega depende muito do comércio externo, pois importa quase tudo que consome, enquanto as suas principais atividades são turismo, marinha mercante e serviços.  Sem dólares ou Euros em caixa, vai ser difícil convencer os exportadores a aceitar as Dracmas impressas pelo governo.

Por tudo isso, torço para que um sopro de sabedoria ilumine as mentes do povo grego e ele opte pelo SIM.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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