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Números do PIB: fracasso da Nova Matriz e desmoralização do discurso que culpa o resto do mundo

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READERÉ difícil encontrar em economia um caso tão claro de uma política econômica que deu errado como a Nova Matriz Econômica do primeiro governo Dilma. Sei que alguns vão pensar que a essa altura criticar a Nova Matriz é chutar cachorro morto, mas não concordo que seja. No final da década de 1990 ,eu e muitos outros economistas da minha geração e mesmo da geração anterior cometemos o erro de pensar que estávamos livres do intervencionismo no estilo da Nova Matriz. Como sabemos hoje foi um erro grave. Com a guarda baixa os alquimistas da economia encontraram espaço para voltar com fórmulas que foram vendidas como capazes de fazer o Brasil crescer ou recuperar a força da indústria com apenas alguns decretos e mudanças nas políticas monetária e fiscal. Mesmo hoje não estamos livres de tais saídas fáceis; se uma pessoa desatenta ler nos jornais as recentes medidas da área econômica, é muito provável que pense que Mantega ainda está no comando.

Os números do PIB divulgados hoje mostram de forma inequívoca que a Nova Matriz não foi capaz de entregar o que prometeu. Outros números da economia mostram que além de não ser capaz de entregar o que prometeu, a Nova Matriz tirou do eixo o que estava funcionando. Como é de conhecimento comum, a Nova Matriz foi apresentada como uma política econômica que seria capaz de estimular o crescimento. Dilma chegou a falar que seria a presidente do PIBão, aumentaria a taxa de investimento e estimularia a indústria. Os dados mostram que a economia está encolhendo, o investimento caindo e a participação da indústria no PIB continua em queda livre. O quadro fica mais grave quando levamos em conta que a inflação não para de subir, o processo de redução da pobreza parou e aparenta ter sido revertido e mesmo o desemprego, que parecia ser a única variável imune ao desastre da Nova Matriz, começou a dar sinais claros de que saiu de controle.

Comecemos com o PIB (os dados usados estão aqui e aqui): na comparação com o trimestre anterior houve uma queda de 1,9% que, em termos anualizados, corresponde a uma queda de 7,8% do PIB. O número anualizado é relevante para comparações com outros países, em particular com os EUA, que divulgam números anualizados, e ajuda a perceber o tamanho do problema em que estamos. Ao contrário de outros períodos, dessa vez nem a agropecuária escapou e teve uma queda de 2,7%. A indústria caiu 4,3% e o setor de serviços, um setor importante do ponto de vista do emprego, encolheu 0,7%. Do ponto de vista da demanda, houve queda de 2,1% no consumo das famílias, queda de 8,1% no investimento e aumento de 0,7% no consumo do governo. Aparentemente os donos e as donas de casa pelo Brasil estão tendo mais sucesso em reduzir gastos do que a equipe liderada por Joaquim Levy.

Passemos à comparação com o mesmo período do ano anterior, uma análise que me parece mais relevante. Em relação ao segundo trimestre de 2014, o PIB encolheu 2,6%. Pelo lado da oferta, a agropecuária foi o único setor que não diminuiu em relação ao segundo trimestre de 2014  (houve um crescimento de 1,8%); a indústria encolheu 5,2% e o setor de serviços encolheu 1,4%. Pelo lado da despesa, houve queda no consumo das famílias (2,7%), no consumo do governo (1,1%) e no investimento (11, 9%). Apesar da insistência do governo em culpar o resto do mundo por nossa crise, as exportações foram o único grupo da demanda que apresentou crescimento: cresceu 7,5% em relação ao segundo trimestre de 2014, e as importações caíram 11,7%.

Dos principais setores da indústria, a maior queda registrada foi na indústria de transformação, que encolheu 8,3%, seguida de perto pela construção civil ,que diminuiu 8,2%; a produção e distribuição de eletricidade, água e gás diminuiu 4,7% e, reforçando a tese de que o resto do mundo mais ajuda do que atrapalha, a indústria extrativa, que depende muito da economia internacional, cresceu 8,1% e evitou um desastre ainda maior na indústria. A queda da participação da indústria de transformação no PIB é um dos atestados de fracasso da política econômica de Dilma. Quando Dilma tomou posse, a indústria de transformação representava 15% do valor agregado e 12,7% do PIB. No segundo trimestre de 2015, a indústria de transformação representou 10,7% do valor agregado e 9,1% do PIB. É triste lembrar que fortalecer a indústria de transformação foi um dos motivos alegados pelo governo para abandonar o Tripé Macroeconômico, que pelo menos vinha conseguindo manter a inflação controlada.

A queda da taxa de investimento, tanto medida como formação bruta de capital fixo (aquisição de máquinas, equipamentos e estruturas) quanto medida pelo investimento propriamente dito (formação bruta de capital fixo mais variação dos estoques), é outro atestado do fracasso da Nova Matriz. Uma política econômica que tentou reduzir juros na marra para estimular o investimento acabou por levar o investimento de aproximadamente 20% do PIB para 17,5% do PIB. A queda do investimento sinaliza que uma recuperação ainda não está no horizonte: pela primeira vez desde 2009 houve uma queda nos estoques no segundo trimestre.

Os números do segundo trimestre de 2015 são devastadores. Um governo normal estaria preocupado em tomar as medidas necessárias para que a economia saia o quanto antes da crise. Infelizmente nosso governo se encastelou em mundo de fantasias de onde tudo que a presidente consegue dizer é que o próximo ano não vai ser maravilhoso. Estamos mal.

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Roberto Ellery

Roberto Ellery

Roberto Ellery, professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), participa de debate sobre as formas de alterar o atual quadro de baixa taxa de investimento agregado no país e os efeitos em longo prazo das políticas de investimento.

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