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Greve na UFF: os inúteis no poder de uma Universidade Federal

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GREVEUFF
Créditos: G1

A burrice no Brasil tem um passado glorioso e um futuro promissor

— Roberto Campos.

 

Depois de meses sem aulas, dias e semanas na ausência dos estudos ou do empenho que os cursos normalmente proporcionam (ou deveriam proporcionar), a greve na Universidade Federal Fluminense tem seu término. Muita gritaria por melhorias, além das pautas que a ideologia progressista insiste em colocar (mesmo não tendo sentido), por mais suporte e um maior respeito para com o corpo de alunos, docentes e funcionários terceirizados foi feita para gerar a grande greve, que finalmente terminou.

A parada total da UFF tem um motivo nobre. Funcionários terceirizados não recebiam havia meses, o bandejão estava parado há tempos, cortes de energia eram efetuados e os campus estavam ficando insalubres pela falta de limpeza. Boníssimas razões para protestar, fazer barulho, reclamar, chamar a atenção; de fato, a preocupação com o próximo e o zelo com o próprio ambiente de estudo devem ser elementos levados em consideração. Impostos servem para suprir e manter os custos da universidade e todas as suas divisões pelo Rio de Janeiro, logo, uma má gestão e uma diminuição na arrecadação geram, sem sombra de dúvidas, penúrias e problemas em seu funcionamento.

Mas para analisar a greve, e seus compositores, é necessário voltar um pouco no tempo. Em 2014, ano das eleições, uma gama de universitários e professores[1] fez uma árdua e grande campanha em prol da continuação do PT e de Dilma Rousseff no poder da Federação. Adesivos, camisas, canções, brados, discursos, debates, acusações contra o opositor, reuniões e até mesmo epítetos exaltantes como “Coração Valente” ou o conhecido “Dilmãe” foram utilizados para promover a candidata que venceu as eleições do ano passado; curiosamente os mesmos detentores do esclarecimento, os próprios universitários estudiosos e atentos, os amados intelectuais, fizeram questão de ignorar os avisos e as análises óbvias vindas da economia. Conservadores, liberais, libertários, sociais democratas – ou qualquer pessoa decente e com um pouco de inteligência de fato –, avisaram sobre os erros políticos, assim como a péssima administração que o PT efetuava, e que se Dilma fosse reeleita, uma grave crise se instalaria. Dito e feito, a crise chegou nesse ano.

É interessante notar que foi a pessoa e o partido (que eles elegeram, defenderam e exaltaram) que criaram o problema financeiro que assola as universidades. Os cortes vieram a mando de Dilma, não de um fantasma tucano, ou pela ordem de um monstro da burguesia. Foi pelo erro do PT, embasado por um arcabouço ideológico, em cima de jargões e de acusações contra o empresariado e a cultura conservadora brasileira que fez esse mesmo partido destruir a política e economia do Brasil. É o partido das cotas, do movimento gay, do aborto. O PT é progressista em vários níveis, e sem as conquistas que ele teve no meio acadêmico, possivelmente não teria sido reeleito[2].

A simpatia era tanta que muitos sujeitos criaram gritos como “pelo negro, pelo pobre, pelo gay, pela mulher!” ao votarem na atual presidente. As massivas ofensas ao PSDB e a Aécio Neves não foram proferidas em reuniões escuras, mas sim em alto e bom som nas salas de aula, pátios e reuniões de grupos estudantis engajados na reeleição de Dilma Rousseff. Tamparam os olhos e ouvidos para a total falta de capacidade cognitiva que a presidente demonstrava em seus discursos e debates, fizeram questão de rir e dar aquele velho e solene ar de superioridade quando algum liberal avisava da crise. Agora os sorrisos e deboches terminaram. O dinheiro acabou e a realidade bateu na porta vermelha.

Como já foi dito, mas nunca é ruim repetir: uma das consequências para o mal que os iluminados das faculdades defenderam em 2014, a amada Dilmãe, amante dos pobres e desamparados, a amazona que combate a discriminação, cortou a tão preciosa verba das universidades federais. Uma mente normal, com uma cognição capaz de fazer nexos simples e silogismos nada complicados não teria dificuldade de notar o óbvio: os universitários que militaram em prol da permanência da Dilma e do PT foram os responsáveis pelo mal que ocorreu no sistema público de ensino[3]. Contudo, não estamos lidando com mentes normais.

Além dos esclarecidos universitários e doutores não combaterem com afinco a causa dos cortes de verbas, isto é, em parte, o argumento que eles usavam e em que acreditavam para fazer campanhas para a Dilma; combatem as consequências como se suas ações não tivessem nenhum vínculo com a atual precariedade da educação!

Os sujeitos não conseguem enxergar os erros em si mesmos, e como implicação, não têm a competência de fazer uma simples crítica a si próprios; detendo uma inaptidão para a autocrítica, os militantes universitários geralmente agem com agressão em seus discursos, berram e acusam desaforadamente pessoas e grupos de machistas, opressores, racistas, etc., invadem eventos, cometem atentado ao pudor, picham espaços do campus usando expressões e palavras grosseiras que são, nada mais nada menos, recheadas de puro ódio, algo que tanto dizem combater – com tal histórico, não é de se espantar a insuficiência de criticar o âmago de seus “valores”. São esses jovens, e alguns já velhos, que detém o poder de influência para parar uma universidade[4].

Com o corte de verbas dificultando a vida acadêmica em geral, os esclarecidos resolveram arquitetar e defender uma proposta de greve. No momento da deflagração da greve, as provas do primeiro semestre ainda estavam sendo aplicadas, ou há pouco tempo foram efetuadas, porém a mensagem era clara: a UFF pararia. E parou.

Os movimentos estudantis promoviam algumas paralisações antes mesmo de a greve começar, chegando a cometer o crime de impedir a entrada e saída de estudantes do campus do Gragoatá, em Niterói. Quando a greve finalmente foi decretada, alguns professores decidiram continuar com as aulas ou terminar de aplicar algumas provas. O que foi feito com os professores fura-greve? Os bons e iluminados alunos invadiram a aula de certos professores que não concordaram com a greve – alguns tendo a covardia de não mostrar o rosto, com medo de represálias –, causando tumulto, gritaria e xingamentos para com os professores, desrespeitando, agredindo e ofendendo os docentes e a aula. Também não foi raro encontrar, no “setor” de humanas do Gragoatá, pichações atacando professores contrários à greve, e ocorreu um caso em que uma professora teve sua aula invadida e, no quadro, uma ofensa foi escrita contra a mesma[5].

Tudo isso, toda essa violência e ódio, para apoiar e manter a greve, todas as paralisações, berros, insultos, crimes… Para nada. A greve ocorreu, e durou 132 diasMeses de greve para, no final, termos apenas nosso calendário mudado e para o último semestre de 2015 terminar em abril de 2016! Sequer terminamos o primeiro semestre, e estamos em outubro! Só posso dar os parabéns para os maquinadores e apoiadores da greve. A “parabenização” é merecida, e muito. Vamos ponderar?

Toda a violência foi usada não apenas para dar suporte, mas também para criar a greve. O abuso não apenas verbal ou visual, porém também intelectual. Os alunos progressistas, ignorando que os culpados pela crise financeira são eles próprios, banhados pela crença e o engajamento de melhorar e ajudar o mundo, combater a desigualdade e propagar a cultura, usaram de toda a arrogância e ignorância possíveis para ter a (in)capacidade de sanar as consequências e não as causas do problema. Acharam que a parada total das aulas iria dar cabo das dificuldades existentes e melhorar outras coisas, mas passados esses meses sem aulas, nesta semana (mais especificamente: 05/10/2015) a greve termina! E o que conseguimos com a greve? Nada.

Isso mesmo: o nada, também conhecido como o não-ser, a nulidade, o zero, a estagnação, o inexistente, coisa nenhuma… Nada. Mas cabe a pergunta: por que não conseguimos nada? Ou melhor: Por que não conseguiram nada?

Este resultado patético só pôde ser alcançado graças às características grosseiras dos movimentos, que arquitetaram e apoiaram a greve, que mencionei acima. Com a falta de competência de fazer uma simples análise do governo Dilma e uma incapacidade de entender que se a mesma presidente que elegeram e apoiaram com tanto afinco está prejudicando as universidades, é porque algo nos discursos e no cerne da crença e dos valores que possuíam (e possuem) para defendê-la, e chama-la de mãe – pois foram essas mesmas valências que os levaram a apoiar Dilma –, estavam eminentemente errados.

Normalmente, para conseguir suas metas, já agem com brutalidade, não têm pudor ou respeito, denigrem e vilipendiam o patrimônio público e, agora, arranjaram uma greve que prejudicará todos os estudantes. Gostam de socialismo, logo, socializaram as consequências de suas irracionalidades. Todos pagarão a conta dessa vez. A UFF terá que espremer três períodos em apenas um ano ou colocar mais um período no calendário, atrasando e prejudicando a vida, estudos e carreiras de centenas de alunos! Não espero, e nem esperarei, uma espécie de retratação ou um movimento que queira repensar seus mais estimados e poderosos credos; eles não têm a capacidade para tal.

A greve na UFF foi algo inútil. Sua criação e defesa foram inúteis porque houve uma incapacidade típica da esquerda de analisar corretamente a realidade (acompanhada da boa e velha brutalidade retórica); o fato está esbanjado perante o rosto de todos aqueles que fizeram de tudo para que a greve continuasse, mas os fatos não abalam os tolos. Ainda se acham e acharão com a razão, e vão querer fazer outra greve no futuro. Greves por si sós não adiantam em nada quando as soluções são fantasiosas. Para que a UFF, e o restante das federais, tenham sua verba de volta é preciso que os estudantes que beberam tanto da esquerda esqueçam sua matriz de valores, além dos princípios sociais e econômicos que acreditam. É necessário que eles reconheçam seu grande erro e que suas análises são, absolutamente, todas romantizadas e irracionais. Mas esperar porcos criarem asas é, também, algo tão tolo quanto.

O que se pode averiguar, dados os fatos e as circunstâncias, é que os grevistas e seus apoiadores, aqueles que tiveram o poder para decidir a parada total das aulas na UFF, são inúteis. Não sabem administrar ou analisar o panorama em volta ou as causas do cenário, não possuem o mínimo de racionalidade em seus preceitos para justificar uma greve e ainda carecem da hombridade necessária para admitirem que estejam errados. São inúteis, tão supérfluos e desnecessários quanto um aquecedor em um dia quente. Não conseguem o que querem e ainda pioram a situação quando decidem fazer algo a respeito – falta-lhes o bom-senso e o juízo necessários.

UFF: Melhor sem eles, pior com eles[6]. Os estudantes mais lúcidos e sensatos precisam se unir para dar um basta nessa hegemonia do absurdo, reinante na universidade. Talvez algumas alas das faculdades biológicas e exatas – menos bombardeadas pelo irracionalismo de certos professores e movimentos –, acostumadas com lógica e exatidão ao analisar sistemas biológicos e matemáticos, possam participar e emprestar seus talentos e pensamentos para nutrir novos movimentos estudantis com muito mais senso e utilidade que a absurda e obsoleta esquerda.

 

[1] Os adorados intelectuais, ou, como gostam de se autodeclarar: a classe mais esclarecida.

[2] Isso se não levarmos em conta a possível fraude nas urnas.

[3] Sendo menos “diplomático”, os mesmos universitários são culpados pelo aumento da miséria, do desemprego, da pobreza, da violência e da cleptocracia.

[4] São os típicos salvadores do mundo. Indivíduos que ao encararem a maldade e injustiça existentes na vida, absorvem ideais revolucionários para tentar melhorar o mundo; seria imprudente dizer que não são dotados de alguma autocrítica em algum ponto da vida, contudo, a crítica a si mesmo descontinua no momento em que passam para o lado dos salvadores, depois que criticam seus atos passados. Quando a transição é feita, a mente do revolucionário entra em uma espécie de suspensão, que o separa do resto da sociedade, sendo o corpo social o objeto de suas análises e censuras. Acabar com a desigualdade e a injustiça torna-se lema-mor do revolucionário militante, mas ao se suspender e se separar da sociedade opressora, dicotomias “intransponíveis” são criadas, e noções sobre a divisão social são reforçadas para poderem existir ações afirmativas. As mesmas ações e divisões, somadas ao heroísmo, criam o que Luiz Felipe Pondé chama de “monopólio da virtude”, o que impossibilita a autocrítica revolucionária, pois criticar o âmago das ações pelo “mundo melhor” é criticar a salvação do mundo melhor, logo, querer que o mundo continue pior.

[5] Uma das provas para a incapacidade de autocrítica foi essa. Os mesmos que agrediram a professora são os mesmos que agridem meio mundo em prol da mulher.

[6] É necessário frisar que a ação para intensificar a questão “eles e nós”, criada pela esquerda, deu certo. Mas ao invés de fomentar a luta de classes, o tiro saiu pela culatra. Agora são “eles” esquerdistas, e “nós”, os lúcidos.

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Hiago Rebello

Hiago Rebello

Graduado e Mestrando em História pela Universidade Federal Fluminense.

5 comentários em “Greve na UFF: os inúteis no poder de uma Universidade Federal

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    12/10/2015 em 2:13 am
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    Nunca li tanta bosta

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      13/10/2015 em 2:12 am
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      Duvido Silas. Pela tua resposta, aposto que tu é um dos alunos criticados pelo texto. Se assim for, bosta é tudo que você lê normalmente. Esse artigo deve ser uma das melhores coisas que já passaram pelos seus olhos nos últimos tempos.

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    11/10/2015 em 8:34 pm
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    Existem duas posturas filosóficas básicas na vida: (1) produzir riqueza ou (2) disputar/parasitar riqueza. A esquerda optou pela segunda. A partir desse ponto se desencadeiam os fatos expressados pelo autor. Uma herança bastarda da ditadura foi a vantagem moral do PT e afilhados. Com os estigmas morais a esquerda paralisava o pensamento crítico, mas hoje ela está na sua maior parte destruida. Agora ha muito mais espaço para que a nova geração se libere da influencia da esquerda. Podemos ser um pouco mais otimistas que Roberto Campos.

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      12/10/2015 em 4:22 pm
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      Concordo plenamente, mas a frase de Campos foi feita na década de 90, e dado o período, creio que era bem verdadeira. Hoje, quase duas décadas depois, sofremos com o resultado deplorável dessa irracionalidade.

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        13/10/2015 em 10:37 pm
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        As reflexões de Roberto Campos sao excelentes. Somente quis notar que a nossa realidade já é melhor do que aquela que ele viveu. Especialmente porque o futuro da burrice já não é tão promissor como era antes.

Fechado para comentários.

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