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A Estrutura da Liberdade

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José Mauro Lopes Sena*

liberdadeO conceito expresso pela palavra “liberdade” é por vezes obscuro. Nós, liberais, defendemos a liberdade individual, mas o indivíduo é livre para escolher? Quando observamos os atos do indivíduo, por vezes percebemos que são aparentemente compulsórios. Os seres humanos não se distinguem dos animais por se afastarem da dor e se aproximarem do prazer. O que nos distingue é o cálculo que permite tolerar uma porção de dor ou sacrifício em prol de um benefício, prazer ou objetivo longínquo. Essa capacidade de adiar e planejar o prazer se configura no homem o primeiro indício de liberdade.

Claro que não existe uma liberdade desvinculada do fatalismo, das leis naturais de causa e efeito. Alguns filósofos parecem não compreender que a complexidade de nosso cérebro é capaz de calcular e escolher, dentre as possibilidades, a que trará aparentemente mais benefício ao indivíduo. Simplesmente dizem que, se existe causa e efeito, somos somente efeito e nunca seremos causa. Concordemos com uma coisa: o homem não é totalmente livre porque tem algumas leis a respeitar, as da natureza, as que não tem como ele desobedecer. Agora, dentro das leis da natureza, o nosso órgão chamado cérebro pode sim ser, com toda certeza, usado para fazer escolhas.

Mas, não somos influenciados em nossas escolhas? Sim, a nossa natureza sempre vai preferir sentir prazer, como qualquer animal. A diferença é que somos guiados nas decisões também por nossas ideias, não apenas pela herença genética e pelo ambiente. A lei da causalidade, no caso de nossas escolhas, está arraigada nas nossas crenças. Há quem acredite, e com razão, que roubar é uma maneira mais rápida de conseguir benefícios como, por exemplo, dinheiro. Há quem acredite que vale mais a pena arrumar um emprego, trabalhar, para só depois receber o salário. No entanto, toda escolha tem um custo de oportunidade intrínseco, para ele e para a sociedade.

Quando um homem é preso por latrocínio, a sua pena é a reclusão. A pena da sociedade é pagar todos os custos da manutenção da cadeia, o que inclui estrutura física, recursos humanos, alimentação, dentre outros. Qualquer um que tenha um senso objetivo de justiça consideraria injusto que toda a sociedade pagasse pelo crime que foi cometido contra ela. É injusto condenar a vítima a pagar pelos custos do criminoso. Mas não seria o criminoso uma vítima? Claro que não. Em algum momento ele fez uma escolhe que, para ele, parece justificável diante de suas crenças e necessidades imediatas. Digo imediatas porque a honestidade é o melhor investimento a longo-prazo.

Nenhum homem comete um ato premeditado que não consiga justificar. No entanto, a existência de uma justificativa, seja plausível ou não, não isenta o agente de responsabilidade quanto às consequências de sua ação. As crenças de um homem têm consequências práticas para sua vida. Um exemplo explícito foram os cátaros, nos primeiros séculos depois do ano mil do calendário cristão. Os cátaros acreditavam que a alma estava aprisionada no corpo. A implicação dessa crença, na vida prática dos cátaros, era a visão da mulher como “instrumento do mal”, das grávidas como possessas, do nascimento como prisão, da morte como libertação e do suicídio como ideal. Não é a toa que os cátaros fiéis estão extintos. É provável que só os hereges tenham sobrevivido.

Você pode perceber como aquilo que você acredita pode moldar seu comportamento, suas escolhas? E você, acredita na liberdade? E como essa crença pode lhe libertar? Ou você prefere escolher a escravidão?

No judaísmo, há uma história simbólica interessante sobre a liberdade. Os escravos judeus eram marcados com brincos e por isso, quando chegava o tempo da liberdade os seus senhores lhes tiravam os brincos. Mas, alguns, acostumados com a condição de escravo, tornavam a cravá-los nas orelhas, perpetuando sua escravidão, por escolha. No entanto, para um judeu, é vergonhoso negar a liberdade, por mais cômoda que seja a escravidão. E faz sentido. Foram escravos no Egito e pela liberdade peregrinaram 40 anos no deserto. Houve entre o povo um ou outro que sentia saudades da comida do Egito, enjoado de tanto maná. Mesmo assim, com a idéia de liberdade tão custosa e sofrível, acataram o decálogo, quando Deus se apresentou dizendo: “Eu sou o Senhor teu Deus, que lhe libertou do Egito, do antro de escravidão.” Qualquer outro povo diria: “Você está de sacanagem comigo! Foram 40 anos comendo comida de passarinho e o Senhor ainda me lembra do trabalho todo que é essa tal liberdade!” No entanto, o povo de Israel preferiu almejar a terra prometida, com seus veios de leite e mel. É esse vislumbre além do sofrimento de hoje, essa terra prometida, que a liberdade nos proporciona. É por isso, que por mais que haja deserto, areia nos olhos, febre na pele e cansaço nos membros, se houver liberdade, haverá um futuro, e esse é o mundo desejado, o Olam Habá dos judeus. Sem a liberdade, esse povo não passaria de um bando de escravos comendo cebolas para construir a memória de um faraó.

 

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