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Espatifados no muro: o fracasso anunciado da “nova matriz”

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Créditos: Síntese News
Créditos: Síntese News

A reforma ministerial, rascunhada por Lula e endossada pela presidente Dilma, há poucos dias, é natimorta. Como salientei em artigo mês passado, aqui nesse espaço, vivemos a antessala de um processo, ao qual convencionei chamar de Sarneyzação. O PMDB, ao empoderar-se com mais cargos de 1º escalão, acena com votos para aprovar o ajuste fiscal no Congresso e, ao mesmo tempo, obstaculiza um provável processo de impeachment contra a presidente. Sinceramente, como dizia Renato Russo: que país é esse? Será assim que reconquistaremos o Investiment Grade (IG) perdido? Óbvio que não!

Logo após a decisão da agência de classificação de risco, S&P, de nos punir com a perda do selo de “bons pagadores”, os petistas (e defensores da política atual) partiram para frases de efeito: “não como nem bebo grau de investimento”, “essas agências deveriam se preocupar com a vida delas, não com o Brasil” e “isso não é nada”. Errado! Isso é tudo!

Quando, em 2008, a mesma S&P nos promovera a IG, a decisão coroava uma série de medidas de politicas macroeconômicas vitoriosas, adotadas a partir do Plano Real. Tais medidas advieram de decisões corajosas ainda no início do primeiro mandato de FHC, como saneamento de bancos públicos, “exumação” dos incontáveis esqueletos fiscais, privatizações, e maior racionalização do Estado. Com a crise brasileira de 1999, juntaram-se a essas o câmbio flutuante, o superávit primário (via Lei de Responsabilidade Fiscal) e o sistema de metas de inflação, o que ficou conhecido como tripé macroeconômico.

Com a celeuma global de 2008, Lula (Mantega) optou por adotar medidas anticíclicas, que ajudaram o país a se recompor rapidamente. O arsenal keynesiano foi utilizado, com uso da gastança desmedida e, sobretudo, com as políticas de “escolha de vencedores” (BNDES, subsídios e desonerações para setores escolhidos, pedaladas, dentre outras). Mas, aí, veio o erro fatal! Ao invés de as utilizarem por curto período, unicamente para retirar a economia do estado de tepidez pós-crise, serraram o tripé macro e convocaram para entrar em campo os fantasmas do Milagre Econômico, ressuscitando as chamadas políticas desenvolvimentistas da década de 1970. Com a eleição de Dilma, em 2011, é sepultada, de vez, a combinação vitoriosa que nos levara ao IG.

Como crítico desse receituário para lá de ultrapassado, alertei, por inúmeras vezes (juntamente com outros economistas liberais), que a tal da “nova matriz macroeconômica”, ora em vigor, nos empurraria ao cadafalso. Em meus artigos, aulas e palestras, ou mesmo nas redes sociais, sugeria que nossa economia ia adentrar num círculo vicioso, de preços em alta, déficits gêmeos crescentes e PIB negativo, o que implicaria colocar em xeque o sistema de metas de inflação e, pior, fazer-nos perder o IG. Recordo-me que na noite do segundo turno de 2014, quando anunciada a reeleição da presidente, fiz um “post” dramático, numa rede social, afirmando que “o país é um ônibus desgovernado, a 300 Km/h, indo na direção de um muro, se espatifar”. O muro chegou!

Meu ponto central, aqui, é que viveremos anos difíceis. Como Dilma não tem apoio de boa parte do empresariado (vide o Encontro Nacional da Indústria da Construção, no final de setembro, onde sua saída foi pedida em uníssono), e respira por snorkel, se não renunciar a virada na economia é praticamente impossível.

Parece claro que se a presidente abdicar do Planalto haverá uma melhora geral, pois o maior empecilho para qualquer retomada econômica, hoje, é ela. Todavia, mesmo nesse caso, avalio que necessitaremos de três a quatro anos para reconquistarmos o IG perdido. Não será num estalar de dedos que a S&P nos chancelará novamente, ainda mais considerando que a situação fiscal no Brasil se deteriorou fortemente nos últimos anos, com a dívida bruta caminhando para 70% do PIB.

Nos últimos dez meses, taxaram a mim, e a outros liberais, de pessimistas e porta-vozes do caos, enquanto a mandatária e seus ministros (incluindo Joaquim Levy) pediam otimismo e apregoavam que tudo era passageiro. Estavam errados! O fato é que aqueles que apostaram a favor do governo perderam muito. Até a própria Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, divorciou-se da presidente; já encampou a volta de Lula, em 2018. Impressionante!

Confúcio dizia que “se você quer prever o futuro, estude o passado”. Eu prefiro dizer aos meus alunos que “se você quer prever o futuro, construa-o”. Dilma perdeu identidade com o povo que a elegeu, vide as pesquisas recentes. É uma presidente totalmente fragilizada e sem perspectivas, aquilo que os americanos chamam de lame duck. Não será com essa reforma ministerial meia sola, cujo único intuito é protelar o impeachment, que logrará êxito. A renúncia é sua melhor alternativa… Que venha!

 

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Alexandre Espirito Santo

Alexandre Espirito Santo

Economista e Professor do IBMEC-RJ

Um comentário em “Espatifados no muro: o fracasso anunciado da “nova matriz”

  • Avatar
    08/10/2015 em 11:19 am
    Permalink

    Caro Prof. Alexandre,
    Parabéns por este excelente artigo. Tenho plena convicção que o Brasil só vai sair desta terrível crise econômica e política com a renúncia da Dilma.

Fechado para comentários.

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