fbpx

Entre macarrões e estupros, o absurdo das prioridades

Print Friendly, PDF & Email

Dilma-LegalSenhoras e senhores, mais uma semana absolutamente normal se passou em Brasilândia. A presidente Dilma Rousseff reuniu-se com lideranças da Unasul para aprofundar suas tramas macabras para os rumos da América Latina. Ela mesma, por sinal, ofereceu a vice-presidência do Banco do Brasil a Anthony Garotinho. O escritório de advocacia dos Estados Unidos, Wolf Popper, anunciou na segunda-feira que entraria com um processo contra a Petrobras, em nome de investidores que se sentiram prejudicados, diante da cada vez mais delicada novela do Petrolão. A mudança na LDO já havia sido aprovada, livrando a presidente da punição devida por crime de responsabilidade fiscal.  Pode haver algo mais grave acontecendo que os descalabros nesta lista? Claro que estão todos falando sobre isso, não é mesmo? Se não estivéssemos no Brasil, talvez. Por aqui, não é o que ocorre.

O que chama mais a atenção das redes sociais no momento em que escrevo estas linhas são as manchetes sobre o desentendimento entre o deputado Jair Bolsonaro, do PP, e a ex-ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, hoje deputada federal pelo PT. Aos fatos: há algum tempo, em 2003, foi filmada uma já famosa discussão em que Maria do Rosário acusou Bolsonaro de ser “estuprador”. O que ela tentou fazer, na realidade, foi culpar discursos – supostamente feitos num sentido reprovável, diga-se de passagem – pelos atos de terceiras pessoas. Muitos esquerdistas cinicamente fizeram isso nos últimos tempos, isolando algumas palavras da jornalista do SBT, Rachel Sheherazade, sobre o caso de um menor agredido por “justiceiros”, e promovendo uma grande campanha contra ela como se fosse a responsável por todos os atos violentos cometidos no país. Rachel Sheherazade, inclusive, é bom lembrar, foi alvo de comentário maldoso do professor de Filosofia Paulo Ghiraldelli, que publicou em sua conta no Twitter, há algum tempo, que ela merecia ser estuprada; na época, quais foram as “efusivas reações” de Maria do Rosário, de petistas, psolistas e cia. limitada? Não me recordo de nenhuma.

Fato é que a acusação a Bolsonaro, deixando de lado as posições polêmicas do deputado, é tão inadequada, que o próprio defendeu um projeto de lei que impunha a “castração química” como requisito de ressocialização de criminosos sexuais (PL 5398/2013). Concordem ou não com a ideia, o simples fato de o deputado tê-la proposto é um ato de desaprovação veemente ao estupro. De todo modo, Bolsonaro respondera Maria do Rosário, dizendo que não era estuprador, mas se o fosse, “não te estupraria, porque você não merece”. Indelicado, inconveniente, fora do usual, rompimento de etiquetas, excesso, grosseria? Podemos entender que sim, mas devemos convir em que o ataque inicial era essencialmente mais imoral e indigno. Uma frase posta no condicional – e de fato, Maria do Rosário “não merece” ser estuprada, como ninguém “merece ser estuprado” – é uma abominação digna de escandalizar meio mundo, mas taxar alguém de “estuprador” não representa nada? Que critério está sendo usado para mensurar isso?

A história foi retomada, com ares de novidade, porque, ao rebater um discurso de Maria do Rosário, para variar, distorcendo as recentes manifestações de rua contra o governo e apelidando os responsáveis – como o Movimento Brasil Livre – de amantes do golpismo e da ditadura militar, Bolsonaro começou relembrando aquele fato. Pronto! Foi o suficiente para começarem a pipocar matérias sobre isso, para as personalidades fracas e indignadas reagirem com espanto diante da excrescência cometida pelo deputado, para os “defensores dos direitos humanos” se horrorizarem com a “estupidez” dita por ele – há mais de dez anos atrás. Um desses indignados foi o deputado do PSOL, Chico Alencar, que alegou que nenhum congressista pode “propagar a estupidez nos microfones do Legislativo”. Estamos de acordo com o deputado Chico Alencar, e por isso mesmo acreditamos que ele deveria abdicar de seu mandato para ser coerente com sua afirmação.

O fato é que o PT – o mesmo partido cuja propaganda espalhou aos quatro cantos que os tucanos eram fascistas, que pintou Aécio como uma espécie de nazista, que difamou e caluniou o quanto pôde sem resistência – quer processar o deputado Bolsonaro pela afirmação – que, repetimos, ele referenciou, tendo sido proferida há mais de dez anos em circunstâncias em que seu caráter foi profundamente questionado.

Não escrevemos para defender a atitude do congressista, tampouco para aplaudi-la. O que nos parece é que está havendo uma desproporção, um caos na atribuição de prioridades neste país. A nação está em uma das mais graves crises institucionais e morais de sua história, e não percebo uma reação correspondente à gravidade do momento. Em vez disso, coisas menores são transformadas em espetáculos de circo, e causam mais “sensação” que o que de fato é essencial. Abominam a resposta de Bolsonaro – se deselegante ou não, novamente, não avançarei em julgar, nem é minha questão -, mas aplaudem e sancionam um governo que debocha do povo a todo o instante sem o menor pudor? Aplaudem hospital Che Guevara em Maricá? Aplaudem o gasto abusivo e o crime anistiado pela bancada governista? Aplaudem os desvios vultosos da Petrobras? Aplaudem um governo em que a empresa estatal de petróleo é questionada por uma agência americana? Como diria a própria Maria do Rosário: o que é isso?

Essa valorização excessiva de fatos de menor importância é a tônica do petismo, por razões que dispensam maiores explicações. Isso se prova a partir do último gesto da presidente Dilma, sancionando um decreto – um decreto tão importante, um gesto tão fundamental para a saúde republicana do Brasil, que decidimos reproduzi-lo por inteiro neste artigo:

“LEI Nº 13.050, DE 8 DE DEZEMBRO DE 2014

Institui o dia 25 de outubro como Dia Nacional do Macarrão.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Fica instituído o Dia Nacional do Macarrão, a ser celebrado em todo território nacional, anualmente, no dia 25 de outubro.

Art 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 8 de dezembro de 2014; 193º da Independência e 126º da República

DILMA ROUSSEFF”.

Bravo! Parabéns! Eles se cansaram de terminar as coisas “em pizza” e resolveram terminar com outro prato. Não me levem a mal, adoro macarrão, mas estou mais interessado em outro “ão”: o Petrolão. Enquanto isso, jogam-se muitos holofotes sobre “inhos”, sobre pequenos nadas de menor relevância, e as artimanhas mais sórdidas se concretizam. Entre macarrões e estupros, circulamos pelo palco do absurdo. Que mais virá?

Faça uma doação para o Instituto Liberal. Realize um PIX com o valor que desejar. Você poderá copiar a chave PIX ou escanear o QR Code abaixo:

Copie a chave PIX do IL:

28.014.876/0001-06

Escaneie o QR Code abaixo:

Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

3 comentários em “Entre macarrões e estupros, o absurdo das prioridades

  • Avatar
    19/12/2014 em 3:59 pm
    Permalink

    amigo..mas vc não estaria tb deturpando uma verdade, qd diz que “.. Isso se prova a partir do último gesto da presidente..”. Prova o quê? Pois quem decretou o ‘macarronaço’ (rsss) foi o Congresso. “..Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono..”. Onde houve valorização excessiva desse fato de menor importância?(pela Presidente). E sobre a estratégia de jogar holofotes “sobre pequenos nadas de menor relevância, e (enquanto)as artimanhas mais sórdidas se concretizam”…ué? a estratégia do macarrão é obra de qual deputado? vc sabe me dizer?-A proposta foi apresentada em 2004 pelo deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB/PR) e foi elaborada à pedido da Associação Brasileira da Indústria Alimentícia. Esses Tucanos! rsss. Abcs. Sou ex-querdista. mas às vzs é melhor discutir com quem pensa diferente.

    • Lucas Berlanza
      19/12/2014 em 5:00 pm
      Permalink

      Repare que no texto eu mesmo afirmo que Dilma “sancionou” o decreto, não digo que isto é invenção dela. De fato, eu desconhecia que a concepção dessa proposta – totalmente fútil no furacão que estamos vivendo – tinha sido originalmente sugerida por um tucano. “Eles”, que querem terminar as coisas em macarrão em vez de em pizza, nesse caso, compreendem também políticos da oposição que acabam por fazer o jogo que interessa ao governo, em vez de se concentrar em cerrar fileiras contra a tragédia por ele perpetrada. Dilma não se isenta das críticas, entretanto, posto que, ao mesmo tempo em que se ocupa de sancionar essa bobagem, venha de quem vier, não demonstra o mínimo da atitude e da satisfação que esperaríamos de uma dirigente da nação no meio do caos que estamos enfrentando. Petrolão, LDO e quejandos deveriam ser basicamente TUDO neste momento. Não modifico em nada a ideia do texto, de que coisas pequenas estão recebendo holofotes imerecidos, mas agradeço o comentário e a informação.

  • Avatar
    16/12/2014 em 10:50 pm
    Permalink

    Essa manobra de ‘ macarrões ‘ e discussões inúteis é próprio da medíocre ideologia esquerdista, particularmente a petista. Parece-me, na minha humilde visão de cidadão, uma tática de psicologia de massas que deturpa a verdade e a necessidade primeira das coisas conduzindo, pelo menos a metade da nação, a ter por verdadeiro o que é surreal.

Fechado para comentários.

Pular para o conteúdo