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De Tubarão à Sardinha: O Declínio da Diplomacia Brasileira

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Daniel Rabetti*

O Brasil sempre foi reconhecido internacionalmente por formar os melhores diplomatas da América Latina. Anteriormente ao Governo Dilma, os diplomatas do Itamaraty, em sua maioria, eram oriundos do Instituto Rio Branco. Lá, passavam alguns anos estudando diplomacia e relações exteriores no mais alto nível. Os ingressantes sempre esbanjaram profundo conhecimento em geopolítica, cultura e história, sendo a maioria, fluente, além do Português, em mais três idiomas: Espanhol, Inglês e Francês. Para fazer parte do curso de diplomacia, um dos mais disputados no Brasil, os candidatos precisam passar uma séria de exames do concurso de admissão à carreira de diplomata. Este concurso exige o máximo de conhecimento de Direito Internacional, Letras, Geografia, História, Economia, Política e Relações Exteriores dos candidatos e é considerado um dos mais difíceis no Brasil.

O Brasil já teve grandes diplomatas no passado. O maior exemplo deles foi definitivamente Osvaldo Aranha. Aranha ganhou visibilidade nacional durante o Governo de Getúlio Vargas, após ter sido Ministro da Justiça e Ministro da Fazenda na década de 30. Aceitou a função de Embaixador Brasileiro em Washington e se tornou amigo pessoal do presidente Roosevelt, conquistando o respeito Americano ao aproximar o Brasil dos Estados Unidos e importando ao Brasil o molde democrático Estadunidense. Porém, foi durante o Estado Novo de 1937, que Aranha iniciou seus atritos com Getúlio Vargas por discordar do distanciamento diplomático com os Estados Unidos e uma aproximação ao regime Nazista da Alemanha.

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Osvaldo Aranha, Embaixador Brasileiro em Washington

Foi durante o conturbado período da Segunda Guerra mundial, e em episódios como o retorno de Olga Benário Prestes aos campos de concentração Alemães, que levaram Aranha à realizar uma verdadeira reforma no Itamaraty, desvinculando a diplomacia Brasileira da política interna de Getúlio Vargas e ganhando uma certa independência na esfera internacional. Nascia, então, o tubarão Brasileiro das relações externas.

Aranha teve enorme projeção internacional por articular países da América Latina, na ala Pan-Americanista, contra regimes ditatoriais militaristas, como aquele fomentado por Eurico Gaspar Dutra, e contra a aproximação da América do Sul com países do Eixo. Aranha ainda teria tido papel importantíssimo na criação do Estado de Israel, presidindo a Assembléia da ONU que declarou em resolução histórica a partilha da Palestina em um Estado Judeu e outro Estado Árabe. Foi devido à esta gigantesca atitude diplomática que Aranha, até hoje, é lembrado pelos Judeus de todo o Mundo, recebendo homenagens em cerimônias internacionais e fornecendo seu nome à Praças e Ruas em Israel.

Porém, o tempo passou e este tubarão diplomático perdeu forças. A diplomacia Brasileira dos últimos anos não é nem de longe semelhante a grandeza de Aranha, e tão pouco desvincula-se do ideologismo político partidário dos atuais Governantes Brasileiros. A diplomacia Brasileira foi transformada da neutralidade, imparcialidade e equabilidade, em veículo ideologista político-partidário e ferramenta populista.

O Brasil vem se comportando estranhamente no palco internacional dos últimos anos. Apoiou, por diversas vezes, o Chavismo na Venezuela, e faz-se de surdo, cego e mudo, ao aprisionamento de opositores do atual regime de Maduro. Silenciou-se perante as intervenções do Putin na Crimea Ucraniana, do massacre civil de Assad na Síria e do genocídio étnico em Dafur, Sudão. Ainda apertou as mãos de Ahmadinejad, do Irã, em plena corrida nuclear armamentista. Não fosse suficiente o vexame internacional, o Brasil acaba de manchar sua histórica relação diplomática com Israel, em uma série de atitudes que faria Aranha revirar-se revoltoso em seu descanso eterno.

Primeiramente, o Itamaraty publicou uma nota de condenação à Israel por utilização desproporcional de força em Gaza, sem sequer mencionar as práticas terroristas do Hamas. Em sequência a esta atitude desastrosa, o Governo Brasileiro chamou o Embaixador do Brasil em Israel, Sr. Henrique da Silveira Sardinha, de volta à Brasília, em uma atitude clara de protesto. Por fim, o Sr. Marco Aurélio Garcia, assessor de assuntos internacionais da Dilma, pronunciou, publicamente, que Israel comete um genocídio do povo Palestino, sendo, ironicamente, corrigido pela presidente Dilma – onde genocídio foi substituído por massacre.

O Itamaraty ignorou que uma guerra tem dois lados, que Israel enfrenta um grupo radical islâmico armado chamado Hamas em Gaza, e que por consequência de uma guerra urbana, vítimas civis são inevitáveis. Falhou em observar que a ONU está ainda em fase de investigação de crimes de guerra e precipitou-se em sua nota condenatória, mostrando forte influência político-partidária em sua decisão. Por fim, foi contra a constituição Brasileira, onde a defesa da igualdade entre estados, a condenação de práticas terroristas e a imparcialidade em conflitos internacionais deveria ser posicionada e mantida em notas diplomáticas.

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Sr. Marco Aurélio Garcia, disse que Israel 
comete um genocídio do povo Palestino

O Governo Brasileiro, ao chamar o Embaixador Brasileiro em Israel de volta à Brasília, mostrou sua total despreparação geopolítica, adicionando mais material à problemática situação entre Israel e Hamas e se distanciando de conversação por solução pacífica do conflito. Ainda, colocou em xeque a relação diplomática com a única democracia do Oriente Médio. Não fosse suficiente, faltou ao Governo Brasileiro o respeito e a preocupação com as milhares de vidas de Brasileiros que residem em Israel e estão sob alvo constante de foguetes atirados pelo Hamas.

Por fim, o genocídio de Marco Aurélio Garcia é um verdadeiro homicídio semântico, histórico e matemático. A definição de genocídio é o extermínio total ou parcial de uma raça, população ou grupo étnico. O termo ficou historicamente popularizado depois da segunda guerra mundial onde 6 milhões de Judeus foram brutalmente assassinados pelo regime nazista. Além do mais, a população Palestina em Gaza mais que dobro nos últimos 20 anos, crescendo de 900,000 habitantes na década de noventa, para 1.8 milhão de habitantes em 2014.

A postura do Itamaraty, do Governo Brasileiro e de sua assessoria de assuntos internacionais, vergonhosamente mostram ao mundo o despreparo diplomático, a ignorância geopolítica, o ideologismo político-partidário e a destruição da diplomacia Brasileira. A política brasileira de relações externas se transformou em uma verdadeira sardinha, que se não bastasse a irrelevância de suas atitudes diplomáticas dos últimos anos e seu silêncio catastrófico em observar por vítimas de regimes autoritários e populistas, ainda coloca o Brasil no eixo de países sem nenhum respeito internacional por seus regimes autócratas, como Bolívia, Venezuela, Cuba, Síria e Irã.

*Formado em Administração de Empresas com especialização em Finanças, Professor Assistente na Interdiciplinary Center Herzliya, Israel. Vive em Petah Tikva, Israel, desde 2009.

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3 comentários em “De Tubarão à Sardinha: O Declínio da Diplomacia Brasileira

  • Avatar
    05/08/2014 em 4:16 am
    Permalink

    Gostei muito do texto, parabéns ao autor.

  • Avatar
    05/08/2014 em 4:15 am
    Permalink

    Grande Aranha, homem memorável.
    Gostei muito deste texto, parabéns ao autor.

  • Avatar
    05/08/2014 em 4:09 am
    Permalink

    Infelizmente esta é a realidade da política externa Brasileira.

Fechado para comentários.

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