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Como reconhecer um sofista.  Ou: entre a ideologia e a lógica, dane-se a lógica

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Antes de mais nada, um preâmbulo necessário.  Tenho por norma não falar de política neste espaço, pois considero que o Instituto Liberal deve ser apartidário.  Esta, portanto, não é uma defesa da candidata Marina Silva ou de seu programa de governo.  Por outro lado, também não vai aqui qualquer juízo de valor a respeito de preceitos morais emitidos pelas mais diversas religiões ou igrejas sobe temas como aborto, uso de camisinhas, casamento gay ou sexo fora do casamento.  Como liberal, considero um direito inalienável de qualquer religião estabelecer normas morais de conduta a serem seguidas, desde que de forma voluntária, pelos seus respectivos crentes.

Dito isso, vamos ao que importa.

Velho prosélito do petismo, o senhor Luiz Fernando Veríssimo publicou, no último domingo, um breve artigo no jornal O Globo, em que pretendeu explicar aos seus leitores por que não votará em Marina Silva.  Como Rodrigo Constantino já dissecou a maior parte dos sofismas e bobagens ali escritos, pretendo aqui concentrar-me num ponto específico.

Em seu libelo, embora tenha tratado Marina como “uma mulher extraordinária”, Veríssimo acusou-a, entre outras coisas, de obscurantista e conservadora, por conta de sua postura contra o casamento gay, o aborto e as pesquisas com células tronco.  Até aqui, tudo bem.  É um direito dele não votar em candidatos que apoiem políticas que vão de encontro aos seus próprios valores.  O problema maior com o texto do senhor Luiz Fernando, no entanto, é a desonestidade intelectual, que pode ser facilmente desmascarada pela leitura desta curta frase:

“É impossível saber quantas mulheres já morreram em abortos clandestinos por culpa direta da proibição do uso de preservativos pelo Vaticano, por exemplo.”

Ao ler a frase acima, qualquer pessoa de bom senso presume que a maioria das mulheres, católicas, que engravidou por não utilizar a camisinha e, posteriormente, decidiu pelo aborto, fez sexo fora do casamento.  Com efeito, de acordo com o silogismo de Veríssimo, as mesmas mulheres que, por algum motivo, desconsideraram uma prescrição maior – não fazer sexo fora do casamento -, resolveram acatar uma prescrição menor – não utilizar camisinha.  Depois, já grávidas, resolveram cometer o maior dos pecados ao praticar o aborto.  Faz sentido para você, leitor?

Ainda que, em seu benefício, considerarmos que as mulheres de que falou Veríssimo eram todas casadas e engravidaram dos respectivos maridos, o raciocínio é completamente disparatado.  Alguma mulher, por mais ignorante e estúpida, seria suficientemente carola para recusar o uso de camisinha ao fazer sexo com o marido (um pecado menor) e, ao mesmo tempo, capaz de cometer um aborto, considerado pelo Vaticano um pecado mortal?

Trata-se de um raciocínio tão absurdo para um homem inteligente e bem informado, que só podemos intuir que estamos diante de um sofisma deliberado, com a única intenção de engabelar o leitor desatento.  A inconsistência do argumento é tão gritante que provavelmente faria corar o pai de Luiz Fernando, Érico, envergonhado do filho, capaz de qualquer coisa para defender a sua ideologia.

 

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

Um comentário em “Como reconhecer um sofista.  Ou: entre a ideologia e a lógica, dane-se a lógica

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    15/09/2014 em 8:11 pm
    Permalink

    Érico Vezríssimo é um comediante. Um piadista. Portanto, sem nenhum desmerecimento, um palhaço. O texto comentado é, assim, mais uma das sua palhaçadas. Esse senhor não devia ser levado a sério, como de resto toda a esquerda caviar, da qual ele é exemplar bem acabado.

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