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Band-aids, Tuk-Tuks, e Batman: Buscam-se Empreendedores

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por PAULA DRUMOND GUEDES

04-10-2013; Rio de Janeiro; O governador Sérgio Cabral no Lançamento do Programa Startup Rio; Foto: Shana Reis
04-10-2013; Rio de Janeiro; O governador Sérgio Cabral no Lançamento do Programa Startup Rio; Foto: Shana Reis

São 4 da manhã de terça-feira e me encontro pensando a respeito do DemoDay do Startup Rio, que acontecerá hoje no Parque Lage.

O Startup Rio é um programa do governo do estado do Rio de Janeiro cujo objetivo é estimular o ecosistema de empreendedorismo de tecnologia.   A visão de longo prazo é de transformar o Rio de Janeiro na capital de inovação da América Latina com representatividade semelhante à do Vale do Silício nos EUA.

Conheço o programa intimamente – o idealizei em sua versão “Herbert Richers”.   O Startup Rio concede 100.000 empreendedores selecionados que estejam dispostos a montar seus negócios tech no Rio.  Além disso, o programa oferece aos empreendedores um espaço físico no Catete, e acesso a conteúdo educacional vindo de experts do mercado.

A inspiração para o Startup Rio foi o programa Chileno, Startup Chile, criado pelo ex-presidente liberal Sebastián Piñera.  Um dia, Sebastián se deu conta de que embora o Chile tivesse um ambiente muito favorável para negócios, ainda faltava o tesão por empreendedorismo no DNA Chileno.

A esperança do ex-presidente ao desenvolver o Startup Chile era de que o projeto atraísse empreendedores estrangeiros para sediar seus projetos no Chile.  Ao importar empreendedores, o Piñera estaria trazendo um agente catalizador para que a cultura Chilena desse uma guinada em direção semelhante.

Confesso que a minha primeira intenção ao voluntariar meu tempo para a criação do Startup Rio foi de impedir que empreendedores e engenheiros de computação brasileiros se candidatassem para o Startup Chile…  Cansei de ver manadas de alunos brilhantes saindo de núcleos de pesquisa de excelência como PUC, UFRJ e UFF para seguir ao caminho de Piñera.

Sofri ao observar o êxodo do capital intelectual do polo carioca.  A brilhante sacada de Sebastian despertou uma ansiedade em mim, mas não fui a única a quem ele conseguiu provocar.  O Startup Chile iniciou uma tsunami de projetos semelhantes pelos quatro cantos do mundo…  De Singapura, a Londres, a Nova Iorque – todos os governos criaram suas próprias versões do mesmo projeto em uma tentativa de atrair empreendedores.  Afinal de contas, o empreendedorismo é o principal motor de uma economia – quem consegue criar um ambiente em que jovens brilhantes podem prosperar tem um grande ativo gerador de empregos e estímulo econômico.

O que me leva a compartilhar reflexões a respeito do ecossistema empreendedor no Brasil…  Uma pergunta que recebo com frequência de empreendedores estrangeiros é: “como é empreender no Brasil?”.  Respondo com uma simples analogia: “empreender no Brasil é como fazer um rali de Tuk Tuk por Tamilnadu (região mais pobre da Índia): beiramos a morte ao menos 10 vezes ao dia, sua vida se torna intimamente vulnerável à irracionalidade de terceiros que, ora se lançam na frente do seu Tuk Tuk, ora usam o mesmo como alvo de amortecimento para seus caminhões sem freio.  Não há regras de trânsito, não há mapa… Sequer há estradas!  No final da jornada, a vitória é contabilizada pela sobrevivência de mais um dia.”  Faço essa analogia pois sobrevivi a esse rali – eu sei.  Em resumo: ambas as experiências (o rali e o empreendedorismo brasileiro) fizeram de uma ex-ateia uma pessoa um tanto espiritual…

Dada a hostilidade do ambiente empreendedor no Brasil, seria leviana ao acreditar que o Startup Rio resolve as questões do país.  Neste contexto, o programa se torna apenas um bandaid contra uma hemorragia aguda.

De acordo com o National Venture Capital Association, empresas com características de startup representam 22% do PIB Americano e 11% dos empregos no setor privado.  Sendo assim, abrigar um hub tecnológico é de interesse estratégico para qualquer estado e país.

Para conseguirmos atingir números semelhantes aos do EUA no Brasil precisaremos mais do que de um simples bandaid: precisaremos fazer mudanças estruturais no ambiente de fazer negócios por aqui.  Acredito que seja possível conquistarmos mudanças concretas, em etapas ponderadas.

O primeiro passo é o reconhecimento do empreendedorismo como a chave da criação de valor em uma cadeia produtiva econômica.

Ao lutar para executar um projeto como o Startup Rio, o governo do Estado do Rio de Janeiro deu sementes de indícios de ter esse entendimento.  Sigo no conselho e sei o quanto foi difícil superar obstáculos para que esse projeto seja concretizado.

O Segundo passo, e mais importante, é conseguirmos, como uma comunidade, transformar um programa em uma plataforma para mudanças estruturais.

Reconheço a boa disposição do governo do estado do Rio de Janeiro em dialogar a respeito do tema.   Inseriram na pauta do Demo Day o painel de título: “O papel do estado no empreendedorismo digital”, o que é um bom começo de conversa.

Sinto muito não termos empreendedores nem fundos de Venture Capital participando deste painel –  tenho certeza de que teriam bastante a complementar ao encontro.

Acredito veementemente que o impacto do Startup Rio será multiplicado quando conseguirmos emplacar vitórias que nos aproximem do contexto do dinamismo do empreendedorismo global, onde se exercem duas melhores práticas:

(1) contratos de trabalho entre partes voluntárias e

(2) impostos centralizados a níveis estaduais, apenas (leiam-se cargas federais mínimas)

Trata-se de características básicas e fundamentais para que o mercado funcione e, quem sabe, talvez até prospere (sejamos audaciosos em nossas pretensões!).

Uma conquista é a da coragem que os governantes envolvidos têm tido em mergulhar em um projeto ambicioso, inovador, e de difícil execução.  Espero que os diálogos desafiadores já iniciados entre partes que frequentemente não conversam deem frutos a projetos mais grandiosos.  Esses projetos demandarão ainda mais dedicação e coragem para serem executados.

Hoje, quando os empreendedores apresentarem suas 10 empresas  ao público no Demo Day do Startup Rio, devemos lembrar que eles não serão os únicos sendo julgados.  A capacidade do Estado de aproveitar a oportunidade de liderar a transformação do Startup Rio de um projeto bacana e bem feito para 150 pessoas em uma plataforma para mudancas estruturais também estará em jogo.

Eu acredito e aposto que isso é possível: conheço a equipe, que é dedicada e está fazendo um trabalho sério.

O Bat Sinal foi lançado, the stakes are high.

Aguardo o contato de colegas empreendedores com interesse e conhecimento de causa que queiram colaborar diante dos desafios e da oportunidade de transformarmos o projeto do Startup Rio em uma plataforma para mudanças estruturais.  Está na hora de incentivar o empreendedorismo de forma mais robusta e duradoura.  Para quem quiser colaborar (ou criticar), meu email é p.startuprio@gmail.com.

Uma coisa eu garanto a todos: como em qualquer corrida de Tuk Tuk, sobreviver não será fácil, mas a jornada será incrível e a conquista pagará as cicatrizes.

 

 

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3 comentários em “Band-aids, Tuk-Tuks, e Batman: Buscam-se Empreendedores

  • Avatar
    21/08/2015 em 9:05 pm
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    Quando será que os intelectuais desse pais vai valorizar o seu patrimônio nacional? Lamento dizer que “empreendedorismo no Brasil” signifidca entrega do bem público a exploração estrangeira. A fórmula proposta pelo articulista é anti patriota, egoísta e lesiva aos interesses nacionais; porque até os semi analfabetos sabem que aqui o empreendimento funciona na base do “quem paga mais”; já não bastam os últimos exemplos apurados pela Lava Jato de como são feitos os negócios nessa terra de mafiosos perdulários desonestos comandados por quadrilhas e cartéis cognominados de partidos políticos? Esse projeto se passar será mais uma fonte de desvios de dinheiro público. Será que o tesouro nacional não tem fundo?

    • Avatar
      24/08/2015 em 9:35 pm
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      Concordo. Qualquer coisa que use o Estado como meio, tende ao populismo, desvios de dinheiro, etc.

      • Avatar
        14/09/2015 em 8:00 pm
        Permalink

        É preciso rever o sentido verdadeiro dessa palavra no conceito dos interesses nacionais, onde o populismo é o “modus operandi” de uma nação. Assim medidas ou planos populistas devem atender aos interesses dos habitantes do pais e não dos “partidos” engajados na tarefa de confundir a mente tacanha do povo de que “populismo” é uma ideia contraria aos interesses dos cidadãos e só se presta a propaganda ideológica partidária. O populismo deve ser entendido como “uma coisa boa” onde todos se dão bem. A questão é que ela é apregoada, mas nunca posta em ação. Logo o populismo deve representar a “vontade do povo”; e não do Estado.

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