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Acabou o embargo.  E agora?

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Quanto maior for a colheita, maior será o poder de compra do agricultor”. (Jean-Baptiste Say)

Com a exceção talvez de certa esquerda jurássica – que vê a sua Disneylândia comunista prestes a ruir, vítima da realidade implacável segundo a qual socialismo e pobreza são dois lados da mesma moeda -, não há como deixar de comemorar a notícia do reatamento de relações diplomáticas e comerciais entre Estados Unidos e Cuba.

Ainda que o embargo norte americano tenha sido praticamente inócuo durante a maior parte do tempo que durou, já que Cuba mantém relações comerciais com quase todos os demais países do mundo, sua existência serviu como uma luva à propaganda do Regime Castrista, que o transformou num enorme bode expiatório, capaz de explicar todos os problemas por que passa a ilha caribenha, desde malfadada revolução.

De fato, o famigerado “bloqueio” – como o chamam os fanáticos comunistóides, ainda que o bloqueio naval de verdade tenha durado apenas poucos meses, durante a crise dos mísseis, em 1962 – tem servido de desculpa para todas as mazelas impostas ao sofrido povo cubano por um regime obtuso, totalitário e cruel. (A propósito, chega a ser patético como aqueles mesmos gênios que não raro culpam a globalização e o imperialismo pelos problemas dos pobres, ao mesmo tempo enxergam no embargo comercial e financeiro  “estadunidense” a causa da crescente miséria cubana).

Não, meus caros amigos, não é pela impossibilidade de importação de produtos americanos que os cubanos são obrigados a racionar comida e falta praticamente tudo por lá.  Desde o ano 2000, as exportações de alimentos americanos para Cuba estão permitidas, desde que, evidentemente, sejam pagas antecipadamente.  Afinal, é notória a penúria financeira do governo cubano.  Há muito, também, os países europeus, grandes produtores e exportadores de alimentos, já mantêm relações comerciais com os cubanos.  Se não vendem mais, não é por conta de nenhum bloqueio, mas por falta de contrapartidas.

Com efeito, a escassez de alimentos e outros produtos não é conseqüência da ausência de comércio externo, mas do fraquíssimo desempenho econômico de Cuba.  Qualquer pessoa com algum conhecimento, mínimo que seja, de economia sabe que os cubanos, em face da inexistência de propriedade privada e da impossibilidade de trocas livres, além da ausência total de um Estado de Direito, que garanta a execução dos contratos, não têm bons incentivos para produzir.  Como – já dizia Say – não existe demanda (capacidade de consumo) sem produção anterior, de nada adiantará a abertura dos portos aos americanos, se a estrutura de incentivos ao trabalho e à produção permanecer a mesma.  Afinal, os americanos podem até ser altruístas – como demonstraram, por exemplo, as dadivosas doações que fizeram à ilha por ocasião do Furacão Michelle -, mas não são nem um pouco bobos.

Portanto, se quiserem comerciar com os “estadunidenses”, terão de providenciar alguma coisa para dar em troca.  E é aí que mora o principal problema dos cubanos.  O reatamento de relações diplomáticas e comerciais com os EUA é um primeiro passo, alvissareiro, sem dúvida, mas, infelizmente, a estrada rumo à prosperidade é muito longa e dependerá de muitas outras reformas profundas, as quais talvez os irmãos Castro não estejam dispostos a fazer.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

Um comentário em “Acabou o embargo.  E agora?

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    19/12/2014 em 11:37 am
    Permalink

    Concordo in totum com o douto articulista. O tal “embargo” sempre foi algo “pra inglês ver”, prestando-se mais à fixação maldosa da figura de Cuba com vítima do capitalismo raivoso – como eles adoram dizer. É caso similar ao de Coreia do Norte, com farto suporte amplo providos pela China e Russia, entre outros.
    O que Cuba demanda, urgentemente, é uma mudança radical em seu sistema de governo, derrubando o já ultrapassado quinquagenário ditatorial dos Castro, e democratizando-a em seu mais amplo sentido. Mais: apenas estas medidas não serão suficientes para ressignificar a experiência cubana. Haverão que se reconstruir sua sociedade, economia, educação, mandamentos jurídicos, Constituição, instituições públicas e privadas, enfim, fundar-se uma “nova Cuba”, para apagar de vez e para sempre qualquer rasgo tipificador do período pregresso sob o domínio dos comunistas raivosos que, literalmente, destruíram essa bela ilha caribenha.
    Sem isto, nunca haverá uma “nova Cuba”.

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